5 de dezembro de 2012

Oscar Niemeyer morre aos 104 anos.


Oscar Niemeyer morre aos 104 anos (G1)Oscar Niemeyer fez história na arquitetura mundial

Brasília e Niterói são as cidades com maior número de obras do mestre.
Arquiteto teve uma única filha, quatro netos, 13 bisnetos e seis tataranetos.


O arquiteto Oscar Niemeyer em seu aniversário de 100 anos, em 2007
Oscar Niemeyer em seu aniversário de 100 anos,
em 2007 (Foto: Marcia Foletto/Ag. O Globo)

O arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, morto às 21h55 desta quarta-feira (5) aos 104 anos, foi um dos profissionais mais premiados e influentes do mundo. Seu trabalho, sempre cheio de curvas em concreto que tornavam seu estilo inconfundível, marcou a paisagem urbana do Brasil e de outros países. Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu no bairro das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, no dia 15 de dezembro de 1907. Apaixonado por futebol e pelo Fluminense, Niemeyer chegou a jogar no time juvenil do clube de Laranjeiras.
Linha do tempo arquiteto Oscar  Niemeyer  (Foto: Editoria de Arte/TV Globo)
Casou-se cedo. A união com Annita Baldo foi aos 21 anos, quando Niemeyer ajudava o pai na tipografia. Em 1929, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde cinco anos depois formou-se engenheiro arquiteto. No meio do período da faculdade, em 1932, nasceu Anna Maria, sua única filha, que morreu em junho de 2012.
O casamento com Annita Baldo, a primeira mulher, durou 76 anos, quando ela morreu, em 4 de outubro de 2004. Casou-se novamente em 2006, com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira.
Os primeiros passos na carreira que o consagraria como um dos nomes mais influentes na arquitetura foi dado no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, onde fez estágio sem remuneração. Niemeyer teve a oportunidade de conhecer outro gênio da arquitetura ao ser designado por Lúcio Costa para ajudar Le Corbusier, famoso arquiteto suíço, que estava de passagem pelo Brasil, em 1936, para colaborar com o projeto do prédio do Ministério da Educação no Rio.
Ativista políticoEm 1940 Niemeyer conhece Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, e realiza seu primeiro grande projeto, o Conjunto da Pampulha, no bairro na capital mineira, que incluía o cassino, a Casa do Baile, o clube e a igreja de São Francisco de Assis.
Boa parte das obras mais importantes do arquiteto serviu a projetos ideológicos e políticos. Niemeyer projetou o parque Ibirapuera e o Edifício Copan, ambos em São Paulo. Em 1956, com JK na presidência do Brasil, organizou o plano piloto de Brasília e foi responsável pela construção da nova capital federal.

Com traços ousados, o filho do modernismo criou o Itamaraty, o Alvorada, o Congresso, a Catedral, a Praça dos Três Poderes, entre outros prédios e monumentos: “Nós começávamos a imaginar quando é que Brasília iria surgir. De repente, aparecia uma mancha azul no horizonte. Ela ia crescendo. Depois apareciam os contornos e começávamos a dizer: ali é o Teatro, lá é o Congresso, a Torre. Brasília surgia como num passe de mágica, um milagre”, contou ele.

A participação de Niemeyer na vida política do Brasil fez dele um intelectual comprometido com seu tempo. Comunista histórico - se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945 -, o arquiteto teve seu escritório no Rio invadido no golpe de 1964. Depois de passar por interrogatório na polícia, decidiu morar fora do Brasil.

Conviveu com Jean-Paul Sartre em Paris, passou seis meses em Israel, elaborou o projeto da Universidade Constantine, na Argélia, na África, e nesse mesmo período, desenvolveu a sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos.

Niemeyer passou a ganhar projeção internacional e nos anos 70 abriu seu escritório na Champs Elysées, em Paris. O arquiteto também projetou a sede da editora Mondadori, em Milão, na Itália. Foi nesse período que ele influenciou a arquitetura mundial. As amizades iam do pintor Cândido Portinari ao maestro Villa-Lobos, passando por Fidel Castro e Chico Buarque.

Obras em curvas

Niemeyer sempre defendeu o uso do monumental na arquitetura, com certa obsessão pela leveza em contradição com o concreto. A forma é a curva, com que substituiu a tradição milenar de ângulos e retas.
“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo”, explicou o mestre.
Ele retornou ao Brasil no início dos anos 80, período da anistia dos exilados no governo de João Figueiredo. Para consolidar os projetos do amigo Darcy Ribeiro, antropólogo e então vice-governador do Rio na época de Brizola, ele projetou os CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública) e o Sambódromo do Rio.
A cidade de Niterói é a segunda do Brasil com o maior número de trabalhos do arquiteto, depois de Brasília. Após o consagrado Museu de Arte Contemporânea (MAC), foi projetado o Caminho Niemeyer, um complexo de edificações assinadas pelo mestre e voltado para a cultura e a religião. As obras foram distribuídas ao longo da orla da Baía de Guanabara, se iniciando pelo Centro da cidade. Entre as nove construções projetadas, está o Teatro Popular, inaugurado em 2007.

CentenárioNo mesmo ano, o mestre da arquitetura completou 100 anos de vida. A comemoração contou com a presença de cerca de 600 amigos e familiares. No dia, Niemeyer citou mais de uma vez que a vida não é fácil e que, se tivesse que resumi-la numa palavra, escolheria a solidariedade: "Os pobres ficam vendo os palácios de hoje sem poder entrar”, disse. “A vida não é justa. E o que justifica esse nosso curto passeio é a solidariedade”.

A família era composta pela então esposa Vera Lúcia Cabreira, a filha Anna Maria, além de quatro netos, 13 bisnetos e seis tataranetos.

Apesar de tanto sucesso - recebeu todos os prêmios imagináveis, incluindo o prestigioso Pritzker em 1988 e a Ordem do Mérito Cultural - Oscar Niemeyer era um homem modesto. Para os íntimos, ele confessou que não conseguia entender a razão de tanta reverência. “Trabalhei muito, fiz meu trabalho na prancheta, como um homem comum...”.
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Fonte: G1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia

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