24 de dezembro de 2012

A pergunta fundamental


Exemplo 1: Carlos, dentista com profissão consolidada em seu meio de atuação, “descobriu” o mundo maravilhoso das ações, e, após ler sobre os benefícios de se conquistar a independência financeira, resolveu se dedicar de corpo e alma a esse novo “empreendimento”. Participa frequentemente de cursos e palestras de sua corretora, lê diversos livros sobre análise técnica e fundamentalista, e gasta pelo menos 4 horas diárias acompanhando os mercados. Embora o trabalho em sua área de especialização ainda seja sua principal fonte de renda, Carlos está decidido a investir cada vez mais tempo e energia nessa nova “profissão” de trader, apesar de saber todos os riscos que essa “profissão” traz, inclusive para sua carreira principal…

Exemplo 2: Roberto é um bem sucedido advogado. Formado aos 22 anos, e aprovado no Exame da Ordem logo em sua primeira tentativa, Roberto não tardou em ingressar em um renomado escritório de advocacia, onde, graças às suas habilidades técnicas e negociais, foi conseguindo, gradativamente, alcançar postos cada vez mais elevados dentro da sociedade onde trabalha. Paralelamente, vem também obtendo êxito em sua vida acadêmica, onde está concluindo a tese de doutorado numa renomada faculdade pública. No entanto, aos 37 anos, Roberto já sente os sinais negativos de tanta dedicação ao trabalho. Além de estar acima do peso ideal para sua idade, já foi internado 3 vezes no hospital por doenças relacionadas ao trabalho. Sua esposa reclama que ele não tem dado atenção suficiente à família, e principalmente aos 2 filhos do casal. Roberto contra-argumenta, falando que estaria no auge de sua vida profissional, e que não poderia perder oportunidades que ele pensa que não terá mais no futuro…
Exemplo 3: Eduarda está cursando o décimo período da faculdade de Medicina. Aluna dedicada, já “engatilhou” não só uma residência na sua área de especialização predileta – ortopedia – como também foi pré-aprovada para fazer mestrado numa das mais importantes universidades dos Estados Unidos. Dedicando a maior parte do tempo aos estudos, Eduarda procura conciliar da melhor forma possível a vida acadêmica com a vida pessoal, mas sabe que, no fundo, está perdendo contato, aos poucos, com suas melhores amigas, não só pelo tempo que dedica à faculdade, mas também pelo seu temperamento, que tem ficado cada vez mais negativo na medida em que fica “se cobrando” mais cada vez que tira uma nota baixa nas provas…

Os 3 exemplos retratam situações comuns nos dias de hoje, situações essas, aliás, que você mesmo pode estar vivenciando. Cada vez que escolhemos um caminho para seguir a vida, normalmente abandonamos outro. Razões as mais diversas nos motivam a optar pelo emprego “A” ao invés do emprego “B”, a escolher a cidade “E” para morar, em vez da cidade “F”, a optar por fazer, em nosso tempo livre, as atividades “”X”, no lugar das atividades “Z”, e assim por diante. Se é verdade que toda escolha implica num custo de oportunidade, não é menos verdade que tudo o que fazemos nessa vida é motivado por algum valor.
Queremos alcançar a independência financeira porque isso nos proporcionará liberdade e tranquilidade no futuro, e então isso nos motiva a trabalhar cada vez mais, justificando nossa atitude de gastar uma parcela considerável de nosso tempo com trabalho e mais trabalho. Desejamos ter estabilidade financeira, e ser aprovado numa entrevista de emprego, num concurso público, ou ter nosso currículo aprovado, e então isso nos motiva a dedicar uma quantidade infinita de horas e mais horas debruçados sobre livros e mais livros, e atividades de especialização. Queremos ser os melhores profissionais em nossa área de atuação, e então não medimos esforços para fazer cursos de capacitação, ficar até mais tarde no trabalho, concluir projetos em finais de semana, fazer horas extras para dar conta da demanda sempre crescente de serviço. Desejamos bater o mercado, e provar que é possível transformar R$ 100 mil em R$ 1 milhão apenas selecionando small caps que tenham potencial para virar a próxima estrela da Bolsa, ou então fazendo trades “espetaculares” (!!!), e gastando horas infindáveis debruçados sobre a tela do home broker, acompanhando os mercados e as últimas notícias da economia, lendo relatórios e fazendo cursos de análise técnica e fundamentalista etc.
Não há dúvidas de que você deve investir pesadamente no seu capital humano, afinal, você não pode ir atrás de nada menos do que você seja capaz de realizar. Não explorar todas as possibilidades que estão ao seu redor é o primeiro passo para cair na armadilha da área de segurança, que só impede você de crescer.
Por outro lado, essa busca incessante pelo melhor talvez esteja lhe ocultando outros aspectos da sua vida, tão ou mais importantes do que cumprir as metas que você estipulou para si mesmo. Seu trabalho não é sua vida. Sua carreira é apenas uma parte de sua vida. Adianta trabalhar doze horas por dia para ter um polpudo contra-cheque no final do mês pagando o preço de sua vida familiar e emocional? Vale a pena se dedicar com tanta intensidade aos investimentos se isso estiver custando sua saúde? Concentrar-se com tamanha dedicação aos estudos de fato irá compensar tudo aquilo que você abrindo mão de fazer em suas horas livres?
Precisamos muitas vezes diminuir o ritmo e avaliar criticamente o modo como estamos conduzindo a vida, a fim de poder concluir se aquilo que estamos fazendo está, de fato, valendo nosso esforço. Em outras palavras, precisamos muitas vezes “pensar fora da caixa”, analisando a situação de um modo mais profundo, e não apenas na superfície da correria do dia-a-dia. Ainda que você tenha motivos nobres a justificar seus atos do dia-a-dia, como, por exemplo, o desejo de levar uma “vida boa” no futuro, é preciso ter discernimento e pensar se não existe a possibilidade de levar essa “vida boa” já no presente, equilibrando um pouco mais as coisas.
E é justamente aqui que entra a pergunta fundamental, 
“A vida que estou levando vale mais do que as coisas das quais estou desistindo para ter essa vida?”
Repito:
“A vida que estou levando vale mais do que as coisas das quais estou desistindo para ter essa vida?”
Mais uma vez:
“A vida que estou levando vale mais do que as coisas das quais estou desistindo para ter essa vida?”
—————————
Quando você decide levar a vida do modo como a está conduzindo agora, você implicitamente assume a responsabilidade de abrir mão de muitas outras coisas que poderia ter, mas que prefere abdicar em prol de levar a vida como leva hoje. A pergunta é: essa renúncia está valendo a pena?
Essa desistência de inúmeras atividades e coisas que você poderia ter, mas, por livre e exclusiva opção sua, não tem, está sendo compensada pelas atividades que hoje ocupam sua vida?
Como parece ser óbvio, duas são as respostas possíveis a essa pergunta fundamental.
A primeira é dizer que sim, está valendo a pena. Nesse caso, não há muito que falar. Só resta dizer uma coisa: vá em frente e prossiga.
Mas a resposta pode ser um não, ou seja, “a vida que estou levando não está valendo mais do que as coisas das quais estou desistindo para ter essa vida. As coisas das quais estou desistindo valem mais do que a vida que estou levando”. A solução, nesse caso, passa necessariamente pela mudança. Mude de vida. Nos exemplos acima elaborados, provavelmente o advogado Roberto esteja levando uma vida ruim, pois está “a um passo” de uma crise conjugal – e isso sem contar os problemas de saúde ocasionados pelo estresse laboral. Nesse caso específico, ele está desistindo da saúde e da vida familiar para levar uma vida de sucesso profissional (e provavelmente financeiro). Quantas pessoas você não conhece que são assim? Que são extremamente bem sucedidas no trabalho, importantes, respeitadas em seu trabalho, mas que pagaram todo esse sucesso com um divórcio, uma separação, ou mesmo com a própria vida, ou a debilidade na saúde?
Volto a repetir a pergunta fundamental:
“A vida que você está levando vale mais do que as coisas pelas quais você está desistindo para ter essa vida?”
Como eu já disse em outro artigo, tenha coragem de viver uma vida fiel ao que você é, e não a vida que os outros esperam que você viva. Aja de forma que sua vida contemple espaços não apenas para o trabalho ou a necessidade de reconhecimento pelos outros, mas também que ela seja receptiva a tudo aquilo que você deseja fazer. Não desista de levar a vida que você poderia viver, mas não vive por medo de desagradar alguém. Sobretudo, não tenha medo de se expor a julgamentos alheios. Esses julgamentos pouco importam para sua vida. A sua vida pertence a você, e diz respeito a você, e não aos outros. Diminua o ritmo. Seja mais equilibrado nas escolhas. Procure alternativas. Ainda dá tempo.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

FONTE: www.valoresreais.com

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