'Estava onde o suicida esteve', diz afegão de foto chocante em atentado
Fotógrafo registrou menina gritando entre parentes mortos; imagem é
forte.
Massoud Hossaini saiu ferido de atentado que deixou ao menos 70
mortos.
Uma fotografia tirada por Massoud Hossaini de uma
menina afegã de pé em meio a uma pilha de corpos capturou a imagem da devastação
deixada imediatamente após um ataque
suicida contra um santuário xiita em Cabul, no Afeganistão, na semana
passada.
O fotógrafo da AFP, de 30 anos de idade, estava a alguns metros de distância quando a bomba explodiu na última terça-feira (6), deixando ao menos 70 mortos. A imagem da menina Tarana, de 12 anos, gritando em meio aos corpos ofereceu uma visão clara da devastação, e foi capa dos jornais americanos "The New York Times", "The Washington Post" e "The Wall Street Journal".
"Eu estava checando a minha câmera quando de repente houve uma explosão enorme. Por um momento não tive consciência de nada, só senti a onda da explosão e a dor em meu corpo. Joguei-me no chão.
Vi um monte de gente correndo no sentido oposto à fumaça. Sentei-me e vi que minha mão estava sangrando, mas não sentia dor.
É meu trabalho saber o que está acontecendo, então corri na direção oposta de toda a gente.
Quando a fumaça baixou, vi que eu estava de pé no meio de um círculo de cadáveres, amontoados, um em cima do outro. Eu estava exatamente no lugar em que o suicida esteve.
Fiquei em estado choque. Não sabia o que fazer. Então comecei a clicar. Sabia que estava chorando. Foi muito estranho chorar, nunca tinha reagido daquela forma, antes.
Não ajudei ninguém, porque não pude, estava realmente em choque. Sabia que precisava cobrir aquele horror, registrar tudo, toda a dor, as pessoas correndo, chorando, batendo no peito e gritando: 'morte à Al-Qaeda, morte ao Talibã!'.
Virei-me para a direita e vi a menina. Quando Tarana se deu conta do que tinha acontecido a seu irmão, primos, tios, mãe, avó, todas as pessoas ao redor dela, começou a gritar.
Nas minhas fotos, ela estava apenas gritando. Essa reação de choque era tudo o que eu queria captar.
(Nesse momento, chegou um grupo de jovens que começou a atacar os jornalistas no local do atentado.)
Eles me tiraram do local, mas de alguma forma eu consegui voltar e só me lembro quando as pessoas estavam carregando os corpos e eu tentei capturar aquele momento.
Eu queria apenas refletir a dor real de todos ali, para qualquer pessoa que visse minhas fotos. Não importava se afegãos, americanos, muçulmanos, cristãos, ou outros quaisquer. Só queria que soubessem o que meu povo estava sentindo."
Senti 100% tudo. Estive no local antes, durante e depois [do atentado], e fiquei ferido. Foi uma experiência importante.
Na primeira e segunda noite, tive dificuldade para dormir. Sempre que fechava os olhos, lembrava da cena, me perguntando o que mais eu poderia ter feito por aquelas pessoas, por que não ajudei ninguém?
No terceiro dia, todas essas emoções na minha cabeça acabaram porque eu descobri que a foto tinha sido publicada em todo lugar. Vi que tinha feito uma grande cobertura que tinha tido efeito importante. Graças a Deus eu estava lá e consegui tirar uma foto e enviá-la o mais rápido que consegui."
O fotógrafo da AFP, de 30 anos de idade, estava a alguns metros de distância quando a bomba explodiu na última terça-feira (6), deixando ao menos 70 mortos. A imagem da menina Tarana, de 12 anos, gritando em meio aos corpos ofereceu uma visão clara da devastação, e foi capa dos jornais americanos "The New York Times", "The Washington Post" e "The Wall Street Journal".
Tarana Akbari perdeu sete familiares no
atentado,
incluindo um irmão de 7 anos (Foto: Shah Marai/AFP)
Hossaini descreveu o que aconteceu e o que significa ser um fotógrafo afegão
trabalhando em seu país destruído pela guerra. Lei o relato abaixo.incluindo um irmão de 7 anos (Foto: Shah Marai/AFP)
"Eu estava checando a minha câmera quando de repente houve uma explosão enorme. Por um momento não tive consciência de nada, só senti a onda da explosão e a dor em meu corpo. Joguei-me no chão.
Vi um monte de gente correndo no sentido oposto à fumaça. Sentei-me e vi que minha mão estava sangrando, mas não sentia dor.
É meu trabalho saber o que está acontecendo, então corri na direção oposta de toda a gente.
Quando a fumaça baixou, vi que eu estava de pé no meio de um círculo de cadáveres, amontoados, um em cima do outro. Eu estava exatamente no lugar em que o suicida esteve.
Fiquei em estado choque. Não sabia o que fazer. Então comecei a clicar. Sabia que estava chorando. Foi muito estranho chorar, nunca tinha reagido daquela forma, antes.
Não ajudei ninguém, porque não pude, estava realmente em choque. Sabia que precisava cobrir aquele horror, registrar tudo, toda a dor, as pessoas correndo, chorando, batendo no peito e gritando: 'morte à Al-Qaeda, morte ao Talibã!'.
Virei-me para a direita e vi a menina. Quando Tarana se deu conta do que tinha acontecido a seu irmão, primos, tios, mãe, avó, todas as pessoas ao redor dela, começou a gritar.
Nas minhas fotos, ela estava apenas gritando. Essa reação de choque era tudo o que eu queria captar.
(Nesse momento, chegou um grupo de jovens que começou a atacar os jornalistas no local do atentado.)
Eles me tiraram do local, mas de alguma forma eu consegui voltar e só me lembro quando as pessoas estavam carregando os corpos e eu tentei capturar aquele momento.
Eu queria apenas refletir a dor real de todos ali, para qualquer pessoa que visse minhas fotos. Não importava se afegãos, americanos, muçulmanos, cristãos, ou outros quaisquer. Só queria que soubessem o que meu povo estava sentindo."
Senti 100% tudo. Estive no local antes, durante e depois [do atentado], e fiquei ferido. Foi uma experiência importante.
Na primeira e segunda noite, tive dificuldade para dormir. Sempre que fechava os olhos, lembrava da cena, me perguntando o que mais eu poderia ter feito por aquelas pessoas, por que não ajudei ninguém?
No terceiro dia, todas essas emoções na minha cabeça acabaram porque eu descobri que a foto tinha sido publicada em todo lugar. Vi que tinha feito uma grande cobertura que tinha tido efeito importante. Graças a Deus eu estava lá e consegui tirar uma foto e enviá-la o mais rápido que consegui."
A menina Tarana, de 12 anos, grita em meio aos
corpos de vítimas do ataque (Foto: Massoud Hossaini/AFP)
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