- Pressão, estresse, acúmulo de funções e solidão estão entre os motivos que motivam as mulheres a beber
Para o Ministério da Saúde, consumo abusivo de bebida alcoólica é aquele que ultrapassa, para homens, cinco ou mais doses numa mesma ocasião em um único mês ou, para as mulheres, quatro ou mais doses.
A tendência é de aumento crescente não só no volume de álcool ingerido, mas também na frequência com que elas bebem doses comprometedoras. "O aumento é mais expressivo nas regiões Sul e Sudeste, e nas classes de maior poder aquisitivo", diz Stella Pereira de Almeida, psicóloga pós-doutorada pela USP e especialista em tratamento e prevenção do uso de álcool. Para a psicóloga, é urgente que o poder público invista em campanhas de prevenção e divulgação de informações sobre os riscos do alcoolismo para a mulher.
Riscos para elas
Os efeitos do alcoolismo para as mulheres podem variar de acordo com o histórico médico e as condições biopsicossociais de cada uma, indo da dependência química e da cirrose hepática a condições crônicas (câncer de boca, de mama, de orofaringe, ou abortos espontâneos) e agudas derivadas de acidentes, quedas, violência ou mesmo sexo desprotegido."Quando jovens, a presença do álcool faz desenvolver deficiências em vários sistemas do organismo, como neuropatias periféricas (dificuldades de reposição da bainha de mielina, nos neurônios), miocardiopatia alcoólica (inchaço no coração e insuficiência cardiovascular), além de síndrome fetal alcoólica (quando o bebê nasce abaixo do peso, apresenta retardo de crescimento ou mental, ou alterações faciais", diz Arthur Guerra, psiquiatra da USP e presidente executivo do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool). Neste último caso, a criança de mãe que bebeu durante a gravidez já nasce com abstinência da bebida, apresentando irritação excessiva, ansiedade e insônia.
Por que elas estão bebendo mais?
"Não há dúvida de que a disponibilidade e o aumento da renda própria, com melhora da situação financeira da mulher faz com que ela saia mais para beber com amigos", afirma o gastroenterologista Joaquim Melo, consultor em dependência química e presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas).Segundo o antropólogo Mauricio Fiore, do NEIP (Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos), com a quebra das barreiras de gênero, antigos hábitos masculinos também passam a fazer parte do cotidiano das mulheres. "A partir do momento em que as mulheres passaram a gozar de autonomia, velhos hábitos associados aos homens ficam à disposição, até mesmo aqueles que trazem danos ou perigoso à saúde", afirma.
Pressão e acúmulo de funções
Não basta ser uma boa profissional. No trabalho, a mulher acaba tendo que superar os homens --e, apesar disso, ainda aceitar salários menores que os deles. Quando volta para casa, muitas ainda têm que se preocupar com limpeza, arrumação, alimentação e educação dos filhos. Para o psiquiatra da USP Arthur Guerra, tamanha carga de responsabilidades e cobranças pode levar à busca por uma válvula de escape: o álcool.Muitas passam a ter no álcool e em seus efeitos um antídoto para se apartarem de sofrimentos, angústias e frustrações. "O álcool tem efeitos ansiolíticos, portanto, pode ser consumido como substância que alivia a tensão, o estresse e a ansiedade", diz Stella Pereira.
Porém, a bebida ou qualquer outra droga como muleta não ajuda a resolver o cerne da questão geradora dos conflitos internos. Pior: ainda pode criar um problema ainda maior, o alcoolismo.
Copo de álcool para preencher o vazio
Desajustes familiares ou no casamento, sentimento de solidão e casos depressivos também costumam levar ao consumo de álcool excessivo. "O álcool é o típico amigo da onça, que ajuda muito naquele momento, mas vai estragando a vida e a saúde da pessoa, pouco a pouco", diz Joaquim Melo.Segundo Arthur Guerra, o abuso alcoólico também está associado a quadros depressivos pós-menopausa ou posterior à saída dos filhos de casa. Nesses casos, os copos são usados para preencher algo que passou a fazer falta na vida da pessoa ou são uma desculpa para ocupar o tempo ocioso, ao qual ela não está mais acostumada, e com o qual não consegue mais lidar.
Banalização do álcool
Segundo o antropólogo Mauricio Fiore, o álcool sempre teve enorme peso simbólico na história da humanidade. Em nossa sociedade, ele se associa à diversão, ao congraçamento e ao relaxamento."Há pouco tempo, o consumo de álcool por mulheres ainda era menos aceito, assim como seus problemas com a bebida permaneciam velados", diz Stella. Como hoje não é mais necessário esconder esse comportamento, a mulher que bebe passa a ser vista como uma boa companhia, liberal, moderna. "Até um consumo imoderado chega a ser estimulado, em eventos como o Carnaval", observa a psicóloga.
Parte do problema do abuso do álcool está na banalização de uma droga que se antes era vinculada a momentos específicos de convívio social, hoje é requerida em qualquer celebração e cujo uso passa a, na maioria dos casos, não ter nada a ver com a necessidade de socializar:
"Não é para degustar, é para 'esquentar', ficar intoxicado", diz Arthur Guerra. Este posicionamento potencializa o abuso de drogas, independente da causa original pela qual se teve acesso a ela.
Com esse tipo de convívio com a droga, o limite estará no ponto em que a pessoa começa a perder o contexto de sua vida. Passa a se relacionar mais com pessoas que bebem, começa a prejudicar suas relações pessoais e familiares, chegando em casa muito mais tarde ou se tornando agressiva, falta ou chega de ressaca, pode começar a apresentar gastrites, ansiedades e problemas hepáticos.
"O álcool gera uma euforia no início, mas é agente depressor do sistema nervoso central e, em quantidades exageradas, causa depressões", diz Melo.
Além disso, esquisas realizadas na Faculdade de Medicina de Greifswald, na Alemanha, comprovaram que a taxa de mortalidade entre mulheres alcoólatras é 4,6 vezes maior que a das não alcoólatras. No caso dos homens, alcoólatras morrem 1,9 vezes mais que os sóbrios. Em ambos os casos, a idade de óbito cai 20 anos em média, quando comparada à expectativa de vida da população geral.
Com moderação
O IV Simpósio Internacional de Cerveja, que aconteceu no ano passado, em Madri, Espanha, trouxe boas notícias às mulheres não alcoólatras, mas que também não dispensam uma cervejinha de vez em quando.O ginecologista Tirso Perez, do Hospital Puerta de Hierro, informou que apenas dois copos por dia têm ações antioxidantes, anti-inflamatórias, repõe estrogênio na menopausa e reduz riscos de desenvolvimento de hipertensões na terceira idade.
FONTE: noticias.bol.uol.com.br/as mulheres estão bebendo cada vez mais?
Nenhum comentário:
Postar um comentário