Protesto contra desindustrialização
A participação da indústria no bolo que resulta a formação do produto nacional bruto está em queda há alguns anos. Redução rápida. Na década de oitenta, século passado, estava acima de 27%. Ano passado ficou em torno de 15%. Seria apenas um detalhe não fosse esse tipo de emprego uma espécie de necessidade básica para o desenvolvimento nacional. Assim ao invés de exportar produtos acabados, o país vende no exterior matérias primas, o que permite aos concorrentes externos realizar o beneficiamento e o transformar em algo muito mais valioso.
Este pequeno detalhe ilustra a redução da indústria no Brasil. O problema é ela que oferece a principal massa de empregos numa economia organizada. O setor industrial faz a ligação entre o produtor de matéria prima e o comércio. Gera empregos bem remunerados, produz renda e permite o reinvestimento no negócio. Sem indústria de transformação são raros os países que alcançam níveis mínimos de desenvolvimento. Esse é o segredo de nações europeias que não produzem nada em termos de matéria prima, mas importam as commodities, fazem a transformam em produto industrial e naturalmente ganham muito com essa operação.
Getúlio – A China, na Ásia, está demonstrando ao mundo como se realiza essa mágica com objetividade e clareza de intenções. O país é o maior importador de minério de ferro do Brasil. E o revende ao próprio país o aço na forma de automóveis e máquinas. A Holanda, país de dimensões reduzidas, há séculos trabalha na indústria de transformação e no comércio. O processo de industrialização verde e amarelo começou quando Getúlio Vargas conseguiu que os norte-americanos transferissem tecnologia para a produção do aço em troca da participação do país na Segunda Guerra Mundial.
O governo JK potencializou essa tendência ao atrair, com sucesso, a indústria automobilística internacional para produzir aqui. Se o país possui fábricas, passa a dispor também de uma nova categoria profissional, melhor remunerada de trabalhadores qualificados, com protagonismo político. Lula, o metalúrgico que chegou à presidência da República, é filho dessa onda de industrialização no país. A informação qualificada do IBGE de que o emprego industrial está em queda no país acende enorme luz amarela no centro do poder, aqui em Brasília.
Esse é o processo chamado de desindustrialização. País com parques industriais mais modernos, mais automatizados e mecanismos favoráveis aos negócios de exportação invadiram os mercados tradicionais e agridem a concorrência nacional, que perde vendas em seu próprio quintal. A resposta nacional, no governo Dilma, tem sido levantar barreiras protecionistas para evitar que o produto estrangeiro liquide seu similar nacional.
O aumento de impostos, contudo, resolve o problema por tempo limitado. No longo prazo atrapalha, pois sugere acomodação do empresário nacional que fica numa posição de conforto sem a concorrência internacional. Não investe na modernização de suas máquinas, na qualificação de seus operários porque desfruta de proteção tarifária. O Brasil já experimentou a reserva de mercado no setor a informática, que foi um desastre em termos de geração de conhecimentos específicos no setor. Terminou por ampliar o contrabando e ampliar a prática da maquiagem de produtos supostamente brasileiros que na realidade eram estrangeiros disfarçados.
A indústria automobilística brasileira também usufruiu do benefício durante décadas. É preciso dar crédito para o então presidente Collor que afirmou várias vezes os veículos nacionais serem “verdadeiras carroças”. Só então, a indústria se movimentou para produzir com maior qualidade. É o período em que o brasileiro começa a consumir veículos automáticos, com freios melhores e mais tecnologia embarcada. Até aquele momento os carros brasileiros eram ruins e com preços extremamente elevados em comparação com estrangeiros, que só chegavam aqui se pagassem impostos também muito elevados. A indústria, de baixa eficiência, estava protegida.
A passeata – Competição é sempre adequada para forçar a melhoria do produto industrial e buscar a perspectiva de menor preço. Porém a competição predadora, baseada em mecanismos cambiais favoráveis, torna impossível a concorrência. É por essa razão que a presidente Dilma fala em “tsunami monetária” ao se referir à política financeira adotada pelos países centrais. Eles estão emitindo trilhões de dólares e euros, sem lastro, para forçar a queda do valor de suas respectivas moedas. É a maneira de facilitar exportações e elevar o preço das importações.
A cidade de São Paulo realizou-se, na semana passada, a mais estranha e inesperada das manifestações públicas. A poderosa federação das indústrias do estado, junto com representantes de todas as centrais de trabalhadores, foi para frente da Assembleia Legislativa para reivindicar melhores condições de trabalho. Querem energia mais barata (é a terceira mais cara do mundo), redução de impostos, simplificação de tarifas e queda nas taxas de juros. Os brasileiros estão viajando muito para o exterior não apenas para fazer turismo. É mais acessível adquirir em Miami o enxoval do bebê que vai nascer aqui. Ou comprar roupas, nos países vizinhos, para o dia a dia do trabalho, que não raro utilizam o algodão brasileiro nas suas confecções. O processo de desindustrialização está em curso. Ele é lento, pode ser evitado, mas exige medidas estratégicas de longo alcance. Elevar impostos é política de curto prazo. Alivia a dor, mas não cura a doença.
Artigo publicado hoje no Jornal de Brasília.
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