As vantagens de fazer o pagamento de compras à vista não se limitam ao desconto que normalmente você ganha utilizando esse método de pagamento. Elas vão muito além, envolvendo ganhos também nos planos psicológico, de tempo e de organização financeira pessoal.
Não é incomum que você, mesmo que possua um elevado grau de instrução financeira, tenha sido incentivado a elevar a frequência de uso desse meio de pagamento. Até aqui não há nenhum problema – desde que se pague o valor da fatura integralmente até a data do vencimento.
Ocorre que precisamos voltar às origens, e recapitular qual é a função básica de um cartão de crédito. Isso se mostra tanto mais verdadeiro na medida em que essa modalidade vai se tornando cada vez mais popular, e também – na mesma proporção – cada vez mais cara.
Ademais, esse blog precisa exercer uma espécie de papel “contramajoritário”, no sentido de fazer uma análise crítica das funções dos cartões de crédito, pois o que mais se lê por aí, seja na Internet, seja na mídia escrita, é a propagação maciça das vantagens e dos benefícios dos cartões de crédito, enquanto que as desvantagens e os perigos são relegados a segundo plano e, muitas vezes, simplesmente ignorados, como se o cartão de crédito fosse só alegria. Ele não é.
Como o post original ficou enorme, resolvi, para facilitar a leitura, dividi-lo em 3 partes, que serão publicadas ao longo desse mês.
Cartão de crédito: um meio de pagamento, como outro qualquer
Primeiramente, cabe esclarecer que o termo “cartão de crédito” poderia ser classificado, tomando emprestado a terminologia usada nas aulas de língua inglesa, como uma espécie de “falso cognato”, porque não é “cartão”, e tampouco é “de crédito”. Não é cartão porque o tamanho dele é minúsculo: está mais para uma “cartinha” do que um verdadeiro “cartão”. E também não é “de crédito”, porque com ele você cria dívidas, que precisam ser honradas (= pagas) na data de vencimento. Por ele você não recebe valores, mas sim é obrigado a pagá-los (pelos bens e serviços que compra com sua utilização). Portanto, cartão de crédito não passa de uma cartinha de dívidas, ou de um cartão de dívidas (a depender do tamanho de suas dívidas…rsrs). Mas esse nome ia ficar feio, então, preferiram optar pelo nome mais bonito e mais atraente (e igualmente mais falso) de “cartão de crédito”.
Feitas essas considerações iniciais, não há como negar que, quanto à sua natureza, o cartão de crédito não passa de um simples meio de pagamento. Assim como o cartão de débito, o cheque, e o próprio dinheiro em espécie, através dele você realiza pagamentos pelos bens e serviços que consome. Só que tem um “porém”. Você paga tarifa para usar cartão de débito? Você paga tarifa para usar cheque? Você paga tarifa para usar o dinheiro em espécie? Então por que você pagaria tarifa – na forma de anuidade – para usar essa outra modalidade de pagamento?
Aí os defensores do uso do cartão de crédito vão rebater, dizendo que o cartão proporcionaria “benefícios adicionais”, como prazo mais longo para pagar suas compras, milhas aéreas etc. etc. etc. Tudo bem, não há dúvidas de que esses benefícios e esses outros fins do cartão de crédito existem, e até podem ser úteis em algumas ocasiões, e para algumas pessoas. Mas você usa o cartão como meio de pagar compras, ou como um fim em si mesmo? E se você, ao comprar em uma loja, recebesse um desconto de 10% para pagar à vista no débito? Ou, numa loja online, recebesse um desconto de 15% para pagar no boleto? Continuaria usando o cartão, para ganhar umas esmolas de milhas, ou pagaria no débito, ganhando automaticamente mais dinheiro no bolso?
Infelizmente, existe pouco material na Internet que discorra sobre os benefícios do pagamento à vista em relação ao pagamento parcelado, e, os poucos que comparam o pagamento à vista com o pagamento parcelado, ainda se inclinam a favorecer essa última forma de pagamento, como se pagar em prestações fosse a melhor coisa do mundo. Não é. E vou provar para vocês. Abaixo vão 16 vantagens indiscutíveis de fazer o pagamento das compras à vista.
1. Você ganha dinheiro. Se o produto que você comprar estiver com desconto para pagamento à vista – que é o que ocorre na maioria das vezes – o dinheiro não pago pelo valor integral (sem desconto) significa mais dinheiro no bolso para você. E, quanto maior for o desconto, mais dinheiro você ganhará. Duvida? Sugiro que faça o seguinte: monte uma planilha no Excel, ou uma tabelinha no caderno, e vá anotando todas as compras em que você obteve desconto pelo pagamento à vista. Na 1ª coluna, anote o valor integral; na 2ª coluna, anote o valor pago com o desconto; e, finalmente, na 3ª coluna, anote o valor do desconto, que é a diferença entre a 1ª e a 2ª coluna. Com o passar do tempo, você verá que ganhou muito dinheiro com os descontos obtidos com o pagamento à vista.
2. Você valoriza seu dinheiro.Como? Comprando o produto mais barato. É a outra faceta da 1ª vantagem, acima descrita: enquanto o benefício acima é obtido analisando-se a compra à vista sob a ótica do seu bolso, essa segunda vantagem é obtida analisando-se a situação sob a perspectiva do produto em si. Lembre-se sempre de que o dinheiro deve valer mais no seu bolso, do que no bolso do vendedor, e a melhor forma de fazê-lo valer mais desse modo é negociando preços mais baixos para pagamento à vista, com desconto.
3. Você começa o mês seguinte (ou os meses seguintes) com o salário “mais líquido”. Nada de “vaporizar” seu salário líquido. Pagar uma TV LED 32 polegadas de R$ 1.199,00 em 10 vezes “sem juros” de R$ 119,90 seria até interessante pela possibilidade de prorrogar o pagamento de um bem de alto valor por quase 1 ano… seria, se a loja em questão não estivesse oferecendo um desconto de 10% para pagamento à vista. Por quê? Porque, nesse caso, além de você ganhar R$ 119,90 (valor do desconto), ainda não ficaria com seu salário comprometido pelos próximos e longos 10 meses. E, quanto mais parcelas você tiver no cartão de crédito, menos opções de compra você terá com seu salário líquido no futuro. Não é nada bom começar o mês já devendo R$ 753,80 em 16 compras parceladas, não é mesmo? Ainda mais sabendo que você poderia ter não só obtido uma grana extra com o desconto pelo pagamento à vista, como também se livrado da maioria (senão de todas) essas 16 compras parceladas nos próximos 12 meses…
4. Você simplifica a organização de sua vida financeira. Há um argumento matematicamente interessante em favor do parcelamento, mas que só existe quando não se consegue o desconto à vista. Ele consiste em depositar o valor à vista num investimento (p.ex., caderneta de poupança), e, à medida que as parcelas forem vencendo, você quitaria o valor delas resgatando do investimento o valor correspondente à parcela. Assim, no final do parcelamento, o valor que sobraria na caderneta de poupança seria o “desconto” obtido por você. A tese é interessante e pretendo desenvolvê-la em um artigo futuro – se você quiser saber mais sobre o tema, recomendo a leitura de um ótimo artigo publicado no blog da Bolsa Financeira.
Só que 2 são os problemas dessa estratégia de compras: 1º) na maioria das vezes, consegue-se pagar à vista com desconto, tornando a estratégia do parcelamento mais onerosa, e, portanto, mais desvantajosa; e 2º) é uma tática que exige um gasto de tempo adicional lidando com as finanças pessoais, pela necessidade de gerenciar, de forma integrada e conjunta, o orçamento “de despesas”, e o orçamento “de investimentos”. E, convenhamos, nem todos têm paciência de ficar gastando tempo com essa complexa engenharia financeira de investimentos para compras, até porque na maioria das vezes as pessoas possuem mais de 1 compra parcelada – já vi casos de pessoas que parcelavam mais de 20 compras no cartão (!!!) – e tenho certeza que a maioria absoluta delas não adotam esse sistema de guardar o dinheiro que seria reservado para a compra à vista num investimento, com saques mensais desse investimento para pagamento das parcelas que vão vencendo.
A maioria esmagadora das pessoas compra parcelado porque não tem dinheiro mesmo para comprar à vista, e não tem dinheiro para comprar à vista porque… têm dívidas anteriores para pagar… e têm dívidas anteriores para pagar porque… não tiveram educação financeira suficiente para escapar das armadilhas psicológicas do consumo inconsciente e (apenas) aparentemente facilitado pelo pagamento fatiado em “suaves” prestações mensais sucessivas (e por quê não dizer também) sufocantes.
O negócio é dar um passo de cada vez: se você quiser consertar sua vida financeira, dê uma pausa nas compras parceladas, e só volte a realizá-las quando puder “respirar” novamente, ou seja, quando tiver “zerado” todas as compras 2/7, 5/6, 1/4, 8/12, 3/5 do seu cartão de crédito.
Reconheço que, para algumas pessoas, extremamente disciplinadas e que gostam de gastar seu tempo gerenciando “n” contas e “m” compras, talvez o parcelamento seja uma opção a se pensar, somente, repito, caso não se consiga a compra do bem à vista com desconto.
Porém, para a maioria das pessoas, interessadas em ter mais tempo livre para fazerem o que gostam, o melhor mesmo acaba sendo a simplificação da vida financeira, que fica infinitamente mais fácil de ser organizada com compras à vista.
FONTE: VALORES REAIS
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