A taxa de mortalidade das empresas brasileiras é mais alta nos primeiros anos, quando 24% delas declaram falência. Problemas na gestão e falta de planejamento financeiro estão entre os maiores erros nessa fase
O número de pedidos de falência tem oscilado nos últimos meses no país. Enquanto outubro registrou um recorde no número de pedidos — 181 no total —, em novembro houve queda de 27%, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. As estatísticas são pouco animadoras, especialmente para os micro e pequenos empresários, que enfrentaram grandes dificuldades logo nos dois primeiros anos. Segundo o último estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), de julho de 2013, o número de empreendimentos que declararam falência nesse período foi de 24%. Para fugir dessas estatísticas, a sugestão dos especialistas é ter um bom planejamento financeiro e de gestão e estar pronto para encarar os desafios de empreender no Brasil, como a corrupção, os problemas de infraestrutura e os impostos.
Jairo Martins, superintendente-geral da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), acredita que o que mais afeta a longevidade das empresas brasileiras é a falta de planejamento. Os empresários precisam estar constantemente atentos aos diferentes cenários do mercado e aos clientes, além de inovar sempre, não apenas no produto, mas também nos processos, como o de gestão de pessoas. “É necessário haver uma boa comunicação entre a liderança da empresa e os colaboradores, para verificar as habilidades que eles precisam desenvolver e oferecer cursos a essas pessoas”, explica Martins.
Outro grande desafio enfrentado por qualquer empresário atualmente é encontrar mão de obra qualificada. A reclamação é recorrente em microempresas e em organizações de grande porte. “Muitas vezes, esse é um fator inibidor do crescimento”, observa o especialista em liderança e gestão de pessoas Elias Awad. A saída é qualificar os funcionários dentro da empresa ou pagar mais caro do que o valor de mercado em troca de um bom serviço. Awad destaca que somente saber vender não é suficiente, é preciso prestar assessoria ao cliente em todas as fases da compra, inclusive quando o produto apresenta algum defeito. “Numa venda, estamos realizando um sonho, mas se aquele cliente enfrentar problema, nós frustramos em algum estágio esse sonho e precisamos solucionar a situação, seja com a troca do produto, seja ao prestar assistência”, explica.
Finanças em dia
O educador financeiro Reinaldo Domingos afirma que o primeiro passo de um bom planejamento financeiro é saber quais serão os impostos a ser pagos pelo produto ou serviço oferecido. Ele lembra que a maioria das empresas brasileiras se encaixa no Simples Nacional — categoria de tributação que reduz impostos para micro e pequenos empresas — e, por isso, a carga tributária não é muito alta e não deve comprometer o funcionamento da empresa. Os encargos trabalhistas, por outro lado, são os que mais pesam. “A cadeia de custo de um funcionário dentro de uma empresa é cara: pode chegar a 100% do valor do salário, dependendo do regime tributário”, alerta Domingos, que é presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros.
Esse foi um dos principais desafios de Eduardo Melo, 30 anos, que abriu a empresa de limpeza residencial e comercial Límpida em janeiro. “O serviço que montamos é profissional, então, temos que contratar funcionários, não pode ser informal. Por isso, os tributos são altíssimos. Nós estamos nos planejando para o pagamento do 13º desde agosto”, relata. Na mesma época, o sócio, Rodrigo Cotia, 31 anos, entrou para o negócio e investiu capital que foi essencial para que o planejamento se mantivesse dentro do esperado. Mas a legalização se mostrou importante, pois, com a aprovação da PEC das Domésticas, a demanda pelo serviço cresceu.
Contas separadas
Depois que o empreendedor conhece todos os custos que terá — incluindo pagamento de funcionários, impostos, embalagem, frete, aluguel, contas de água e luz etc. —, será possível precificar o produto ou serviço da maneira certa e determinar a margem de lucro que ele vai querer ter sobre esse bem. A partir daí, será preciso definir quanto será tirado de pró-labore, ou seja, a remuneração do empresário ou dos sócios. “É preciso ter claro que não se pode misturar dinheiro da família com o do negócio”, alerta o especialista. Eduardo Melo também enfrentou essa dificuldade e tirou dinheiro do próprio bolso por pelo menos quatro meses para manter a empresa. “Eu iniciei com praticamente zero de capital de giro. Precisei vencer um mês de cada vez para conseguir pagar os impostos”, relata.
A separação se dá da seguinte forma: a empresa, enquanto pessoa jurídica, tem capital de giro — uma reserva que deve ser suficiente para manter o negócio sem depender do faturamento por pelo menos seis meses — e o empresário, enquanto pessoa física, tem uma poupança, em que deve guardar reservas pessoais suficientes para sustentar a família por pelo menos um ano. Com tudo isso organizado, será possível manter o foco no desenvolvimento da área de vendas e no controle do estoque, por exemplo.
Fonte: www.dsop.com.br
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