Fila de espera para cirurgia no Hospital das Clínicas de SP é de 5 anos.
Em outro caso, paciente esterilizado optou por fazer reprodução assistida.
Assim que sua segunda filha nasceu, em 1986, o empresário do setor de laticínios João Bosco, de 58 anos, decidiu fazer vasectomia, pois não pretendia mais ser pai. Após 24 anos da cirurgia de esterilização, porém, o morador de Macheral Cândido Rondon (PR) reverteu o procedimento, e agora comemora a chegada do caçula, João, de 3 meses, fruto de seu segundo casamento.
"Quando a gente é jovem, a função do pai é prover a família com recursos financeiros. E o começo da vida profissional coincide com o início da vida familiar, aí o homem fica dividido. Na época, dei muita prioridade ao trabalho e não tive oportunidade de conviver como queria com as minhas filhas e participar do desenvolvimento delas", lembra.
Já na atual etapa da vida, mais estabelecida, João diz que teve mais chances de curtir a gravidez da mulher, Simone, de 35 anos, e agora o terceiro filho. Para aguentar todo esse pique, o empresário cuida da saúde e faz atividade física (academia, futebol, squash e bicicleta).
"Queria muito um filho homem, foi um presente de Deus maravilhoso. Tive uma infância rica em experiências, e não pude compartilhar essas brincadeiras de moleque com as meninas (Gláucia, hoje com 31 anos, e Gisele, com 27). Espero fazer isso com ele, ensiná-lo a jogar pião, queimada, bolinha de gude, taco, bafo, soltar pipa, andar de carrinho de rolimã, colecionar gibi", enumera o pai – que já é avô de João Rafael, de 5 anos, e Ana Clara, de 1.
Além da possibilidade de reverter a vasectomia com cirurgia, existe a opção de recorrer a uma técnica de reprodução assistida. Dessa forma, é introduzida uma agulha nos testículos do homem, por meio da qual os espermatozoides são retirados. O médico, então, põe esses gametas em uma placa, em contato com um óvulo da mulher, na tentativa de gerar um embrião para, depois, inseri-lo no útero da mãe.
Essa foi a alternativa escolhida pelo técnico de montagem Deucimar Moreira, de 46 anos, que havia feito vasectomia aos 21, sem "maturidade nem conhecimento de vida" na época. O morador de Santos, no litoral paulista, passou 18 anos em um relacionamento com uma mulher mais velha, que o incentivou a fazer a esterilização, mas a relação acabou e, há 7 anos, ele conheceu sua mulher, Simone.
"Depois que nos encontramos, despertou a vontade de ter um filho, e chegamos à conclusão de que iríamos batalhar para isso. Agora, depois de três tentativas, o resultado está na minha casa: a Valentina, uma princesa linda e saudável, que nasceu no dia 2 de abril", revela.
Deucimar afirma que essa é uma emoção que ele ainda não conhecia e que sua casa ficou cheia de alegria. A felicidade foi tanta, que o casal já pensa em ter uma segunda criança, também por reprodução assistida.
A mãe, a engenheira Simone Ninelli, de 38 anos, acrescenta: "Nós dois queríamos muito (a Valentina), e ele ainda mais, por ter feito a vasectomia. Ela é o nosso ouro".
Vasectomia no Brasil
A idade média dos homens que fazem vasectomia no Brasil é de 27 anos na rede pública e de 34 no sistema privado, segundo o urologista Jorge Hallak, chefe do Laboratório de Andrologia do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de esterilizações masculinas feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) subiu de 7.798 em 2001 para 34.144 em 2009, um aumento de mais de 4 vezes. Para ser submetido à operação, o homem precisa ter acima de 18 anos e dois filhos ou acima de 25 anos, com ou sem filhos, explica o urologista Sidney Glina, que realiza tanto reversões de vasectomia quanto reprodução assistida.
"É um absurdo um menino de 18 anos fazer isso, porque ele não tem condições de saber se vai querer ter filho aos 30. É um método radical, e para contracepção existem camisinha, pílula, DIU (dispositivo intrauterino)", enumera Glina.
Mais de 30 milhões de casais em todo o mundo usam a vasectomia como método de controle da natalidade, de acordo com Hallak. Só nos EUA, são feitas cerca de 550 mil esterilizações masculinas por ano, aponta o urologista do HC.
Maioria se casa de novo
Segundo o médico Sidney Glina, de todos os pacientes que fazem vasectomia, entre 6% e 10% mudam de ideia. E a maioria desses homens são aqueles que já tiveram dois filhos, em média, mas se casaram de novo, geralmente com uma mulher mais jovem.
"Esses casos de segundo casamento respondem por até 95% dos desejos de reversão. Os outros 5% são homens que se divorciaram e casaram novamente com a mesma mulher, melhoraram de situação financeira ou perderam um filho", explica o urologista Jorge Hallak.
A reversão tem uma taxa média de sucesso – ou seja, a mulher engravida – em cerca de 60% dos casos. E, quanto menor o tempo em que o homem fica esterilizado, melhor: se o período for inferior a três anos, as chances chegam a 76%, contra 30% se a vasectomia durar mais de 15 anos, destaca Hallak. A idade da mulher é outro fator que conta muito nessas situações.
Duas opções
Para o urologista Sidney Glina, do ponto de vista fisiológico do homem, é sempre melhor tentar primeiro reverter a vasectomia. Segundo ele, alguns casais optam pela reprodução assistida porque a mulher já é mais velha, e "eles querem engravidar amanhã".
"A reversão poupa a mulher que não tem problema de fertilidade, pois ela não precisa tomar remédio, levar anestesia, fazer punção", afirma o médico.
Uma cirurgia de reversão também é mais barata: custa cerca de R$ 10 mil a R$ 15 mil em clínicas privadas, contra R$ 5 mil a R$ 30 mil por tentativa de reprodução assistida – o que geralmente exige mais de uma, segundo Glina.
No HC de São Paulo, a fila de espera para uma cirurgia de reversão chega a cinco anos, com 370 pacientes atualmente, aponta Hallak. Outros hospitais públicos da capital paulista também fazem a cirurgia de graça, como o Hospital Ipiranga, o Hospital Pérola Byington, o Hospital São Paulo e a Santa Casa, acrescenta Glina.
"A ordem de chegada é respeitada, mas outros fatores também são considerados, como a idade da mulher", diz Hallak.
A cirurgia leva de três a cinco horas e precisa ser feita em ambiente cirúrgico, pois exige anestesia geral e internação, de acordo com o urologista do HC.
O pós-operatório demanda dois dias de repouso, até uma semana sem dirigir, de duas a seis semanas sem relação sexual – dependendo da recomendação médica –, até um mês sem esporte, dois meses sem andar de bicicleta e três meses sem andar de moto ou montar a cavalo.
Já na reprodução assistida, as chances de o processo dar certo variam entre 40% e 50%, segundo o médico Condesmar Marcondes, do Núcleo Santista de Reprodução Humana.
"Mulheres que têm pressão alta, diabetes, câncer ou já fizeram cesáreas anteriormente não devem fazer esse procedimento", alerta o especialista.
Fatores de risco à fertilidade
Ao contrário da mulher, que nasce com o número exato de óvulos que vai liberar ao longo da vida, entre a menarca (primeira menstruação) e a menopausa (última), o homem produz espermatozoides continuamente.
Apesar disso, o urologista Jorge Hallak acredita que o ideal é ser pai até os 45 anos, porque com o envelhecimento começam a surgir mais alterações genéticas no DNA, o que pode comprometer os gametas masculinos.
FONTE: g1.globo.com/Pai reverte vasectomia para ter o 3º filho
Luna D'Alama e Mariane Rossi - Do G1, em São Paulo e Santos
"Quando a gente é jovem, a função do pai é prover a família com recursos financeiros. E o começo da vida profissional coincide com o início da vida familiar, aí o homem fica dividido. Na época, dei muita prioridade ao trabalho e não tive oportunidade de conviver como queria com as minhas filhas e participar do desenvolvimento delas", lembra.
Já na atual etapa da vida, mais estabelecida, João diz que teve mais chances de curtir a gravidez da mulher, Simone, de 35 anos, e agora o terceiro filho. Para aguentar todo esse pique, o empresário cuida da saúde e faz atividade física (academia, futebol, squash e bicicleta).
"Queria muito um filho homem, foi um presente de Deus maravilhoso. Tive uma infância rica em experiências, e não pude compartilhar essas brincadeiras de moleque com as meninas (Gláucia, hoje com 31 anos, e Gisele, com 27). Espero fazer isso com ele, ensiná-lo a jogar pião, queimada, bolinha de gude, taco, bafo, soltar pipa, andar de carrinho de rolimã, colecionar gibi", enumera o pai – que já é avô de João Rafael, de 5 anos, e Ana Clara, de 1.
João, agora com 3 meses, é o 1º filho do empresário João Bosco após a vasectomia (Foto: Arquivo pessoal)
João Bosco com toda a família reunida: da esq. para a dir., o genro Rodolfo, a filha Gisele, a mulher, Simone, o filho João, os netos João Rafael e Ana Clara, a filha Gláucia e o genro Rafael (Foto: Arquivo pessoal)
Pai por reprodução assistidaAlém da possibilidade de reverter a vasectomia com cirurgia, existe a opção de recorrer a uma técnica de reprodução assistida. Dessa forma, é introduzida uma agulha nos testículos do homem, por meio da qual os espermatozoides são retirados. O médico, então, põe esses gametas em uma placa, em contato com um óvulo da mulher, na tentativa de gerar um embrião para, depois, inseri-lo no útero da mãe.
Valentina, de 4 meses, nasceu após reprodução
assistida em Santos (Foto: Leandro Campos/G1)
assistida em Santos (Foto: Leandro Campos/G1)
"Depois que nos encontramos, despertou a vontade de ter um filho, e chegamos à conclusão de que iríamos batalhar para isso. Agora, depois de três tentativas, o resultado está na minha casa: a Valentina, uma princesa linda e saudável, que nasceu no dia 2 de abril", revela.
Deucimar afirma que essa é uma emoção que ele ainda não conhecia e que sua casa ficou cheia de alegria. A felicidade foi tanta, que o casal já pensa em ter uma segunda criança, também por reprodução assistida.
A mãe, a engenheira Simone Ninelli, de 38 anos, acrescenta: "Nós dois queríamos muito (a Valentina), e ele ainda mais, por ter feito a vasectomia. Ela é o nosso ouro".
Deucimar e Simone posam com Valentina dormindo na sala de casa, em Santos (Foto: Leandro Campos/G1)
A idade média dos homens que fazem vasectomia no Brasil é de 27 anos na rede pública e de 34 no sistema privado, segundo o urologista Jorge Hallak, chefe do Laboratório de Andrologia do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas (HC) em São Paulo.
Segundo o Ministério da Saúde, o número de esterilizações masculinas feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) subiu de 7.798 em 2001 para 34.144 em 2009, um aumento de mais de 4 vezes. Para ser submetido à operação, o homem precisa ter acima de 18 anos e dois filhos ou acima de 25 anos, com ou sem filhos, explica o urologista Sidney Glina, que realiza tanto reversões de vasectomia quanto reprodução assistida.
"É um absurdo um menino de 18 anos fazer isso, porque ele não tem condições de saber se vai querer ter filho aos 30. É um método radical, e para contracepção existem camisinha, pílula, DIU (dispositivo intrauterino)", enumera Glina.
Mais de 30 milhões de casais em todo o mundo usam a vasectomia como método de controle da natalidade, de acordo com Hallak. Só nos EUA, são feitas cerca de 550 mil esterilizações masculinas por ano, aponta o urologista do HC.
Maioria se casa de novo
Segundo o médico Sidney Glina, de todos os pacientes que fazem vasectomia, entre 6% e 10% mudam de ideia. E a maioria desses homens são aqueles que já tiveram dois filhos, em média, mas se casaram de novo, geralmente com uma mulher mais jovem.
"Esses casos de segundo casamento respondem por até 95% dos desejos de reversão. Os outros 5% são homens que se divorciaram e casaram novamente com a mesma mulher, melhoraram de situação financeira ou perderam um filho", explica o urologista Jorge Hallak.
A reversão tem uma taxa média de sucesso – ou seja, a mulher engravida – em cerca de 60% dos casos. E, quanto menor o tempo em que o homem fica esterilizado, melhor: se o período for inferior a três anos, as chances chegam a 76%, contra 30% se a vasectomia durar mais de 15 anos, destaca Hallak. A idade da mulher é outro fator que conta muito nessas situações.
Duas opções
Para o urologista Sidney Glina, do ponto de vista fisiológico do homem, é sempre melhor tentar primeiro reverter a vasectomia. Segundo ele, alguns casais optam pela reprodução assistida porque a mulher já é mais velha, e "eles querem engravidar amanhã".
"A reversão poupa a mulher que não tem problema de fertilidade, pois ela não precisa tomar remédio, levar anestesia, fazer punção", afirma o médico.
Uma cirurgia de reversão também é mais barata: custa cerca de R$ 10 mil a R$ 15 mil em clínicas privadas, contra R$ 5 mil a R$ 30 mil por tentativa de reprodução assistida – o que geralmente exige mais de uma, segundo Glina.
No HC de São Paulo, a fila de espera para uma cirurgia de reversão chega a cinco anos, com 370 pacientes atualmente, aponta Hallak. Outros hospitais públicos da capital paulista também fazem a cirurgia de graça, como o Hospital Ipiranga, o Hospital Pérola Byington, o Hospital São Paulo e a Santa Casa, acrescenta Glina.
"A ordem de chegada é respeitada, mas outros fatores também são considerados, como a idade da mulher", diz Hallak.
A cirurgia leva de três a cinco horas e precisa ser feita em ambiente cirúrgico, pois exige anestesia geral e internação, de acordo com o urologista do HC.
O pós-operatório demanda dois dias de repouso, até uma semana sem dirigir, de duas a seis semanas sem relação sexual – dependendo da recomendação médica –, até um mês sem esporte, dois meses sem andar de bicicleta e três meses sem andar de moto ou montar a cavalo.
Já na reprodução assistida, as chances de o processo dar certo variam entre 40% e 50%, segundo o médico Condesmar Marcondes, do Núcleo Santista de Reprodução Humana.
"Mulheres que têm pressão alta, diabetes, câncer ou já fizeram cesáreas anteriormente não devem fazer esse procedimento", alerta o especialista.
Fatores de risco à fertilidade
Ao contrário da mulher, que nasce com o número exato de óvulos que vai liberar ao longo da vida, entre a menarca (primeira menstruação) e a menopausa (última), o homem produz espermatozoides continuamente.
Apesar disso, o urologista Jorge Hallak acredita que o ideal é ser pai até os 45 anos, porque com o envelhecimento começam a surgir mais alterações genéticas no DNA, o que pode comprometer os gametas masculinos.
Luna D'Alama e Mariane Rossi - Do G1, em São Paulo e Santos
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