24 de julho de 2013

Dominguinhos morre aos 72 anos em hospital de São Paulo

O músico Dominguinhos morreu nesta terça-feira (23), aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele lutava havia seis anos contra um câncer de pulmão. De acordo com o hospital, o músico morreu às 18h em decorrência de complicações infecciosas e cardíacas.

Ao longo do tratamento, ele desenvolveu insuficiência ventricular, arritmia cardíaca e diabetes. Dominguinhos foi transferido para a capital paulista em 13 de janeiro. Antes, esteve internado por um mês em um hospital no Recife. A filha do músico, Liv Moraes, confirmou nesta segunda-feira (22) que o cantor havia voltado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) porque o estado de saúde dele tinha piorado.

Considerado o sanfoneiro mais importante do país e herdeiro artístico de Luiz Gonzaga (1912-1989), José Domingos de Morais nasceu em Garanhuns, no agreste de Pernambuco. Conheceu Luiz Gonzaga com 8 anos. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico.

Instrumentista, cantor e compositor, Dominguinhos ganhou em 2002 o Grammy Latino com o “CD Chegando de Mansinho”. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia e Djavan.

Ainda criança, Dominguinhos tocava triângulo com seus irmãos no trio “Os três pinguins”. Quando ele tinha 8 anos, foi “descoberto” por Gonzagão ao participar de um show em Garanhuns. A “benção” lhe foi dada pelo rei do baião quanto tinha 16 anos.

“Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco 'Forró no Escuro' quando ele me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrou-se Dominguinhos em entrevista ao G1 no fim de 2012. “Foi uma surpresa muito grande, não esperava mesmo.”

De acordo com ele, o episódio aconteceu somente três anos depois de sua chegada ao Rio, acompanhado do pai, o também sanfoneiro Chicão. Mudaram-se para a cidade justamente para encontrar Luiz Gonzaga. “Em cinco minutos, ele me deu uma sanfona novinha, sem eu pedir nada”, prosseguiu. Naquele período, Dominguinhos saiu em turnê com o mestre para cumprir a função de segundo sanfoneiro e, eventualmente, de motorista.

Centenário de Gonzagão

No fim de 2012, Dominguinhos se dedicou ativamente às celebrações dos cem anos do nascimento de Luiz Gonzaga. Durante um show no dia centenário, 13 de dezembro, realizado na terra natal do músico, Exu (PE), Gilberto Gil comentou: “Dominguinhos teve a herança do Gonzaga, que ele incorporou, através das canções, dos estilos, o gosto pelo xote, xaxado”. 

Para Gil, no entanto, Dominguinhos soube trilhar um caminho próprio. “Dominguinhos foi além, em uma direção que Gonzaga não pôde, não teve tempo. Ele foi na direção do início de Gonzaga, o instrumentista, da época das boates do Mangue, no Rio de Janeiro, quando ele tocava tango, choro, polca, foxtrot, tocava tudo, repertório internacional, tudo na sanfona. ”

Fonte: multinet-informativo.blogspot.com.br
Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem/AE
Por 

Neném do Acordeon

Eu nasci com um bocado de irmãos, éramos 16 , minha mãe, meu pai. Naquela época era tudo muito difícil, meio parecido com hoje em dia ainda, mas hoje temos mais coisas"

12/2/1941

Nasce José Domingos de Morais, em Garanhuns, no agreste pernambucano. É filho de mestre Chicão, tocador e afinador de sanfonas de oito baixos (como Januário, pai de Gonzaga)

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Ainda criança, toca triângulo com os irmãos no grupo Os Três Pinguins, formado por Moraes (sanfona) e Valdomiro (zabumba). Neném do Acordeon é seu apelido de infância

1949

Aos 7 anos, conhece Luiz Gonzaga enquanto toca na frente do hotel em que este estava hospedado, em Garanhuns. O Rei do Baião promete uma sanfona de presente ao garoto se um dia ele fosse ao Rio de Janeiro
Fotos: Reprodução/Globo News; Acervo pessoal/Paulo Vandeley
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Nasce Dominguinhos

Meu pai quis ir imediatamente pra casa de Gonzaga... Deu 2 minutos e ele pegou uma sanfona de 80 baixos e a entregou. Tudo que a gente queria na vida era uma sanfona"

1954

Muda-se para o Rio acompanhado do pai e de um dos irmãos. Radicado no subúrbio de Nilópolis, aprende outros estilos para tocar em casas noturnas da cidade, em especial o chorinho

1957

Aos 16 anos, é apadrinhado por Gonzaga, que o chama de seu 'herdeiro artístico'. Gonzagão ainda lhe daria depois o apelido que o tornaria famoso no Brasil. No mesmo ano, faz sua primeira gravação profissional ao tocar sanfona na música 'Moça de feira', em álbum de Luiz Gonzaga

1958

Aos 17 anos, casa com Janete, sua primeira mulher. Com ela tem os filhos Mauro e Madeleine
Fotos: Acervo pessoal/Paulo Vandeley
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Trio Nordestino e Anastácia

Diziam que o Gonzaga tem voz de cana rachada. Aquele negão, de chapéu de couro, de alpercata, de gibão, tocando sanfona, era uma afronta dançando xaxado, aquelas coisas todas"

1958

Forma, ao lado de Zito Borborema e Miudinho, o grupo de forró Trio Nordestino. Nos anos seguintes, interessa-se por outros gêneros, como o samba, a gafieira e o bolero

1965

É convidado por Pedro Sertanejo a gravar na gravadora Cantagalo, um disco que tinha como alvo os imigrantes nordestinos que viviam no Rio
Fotos: Site oficial, Cedoc/FPA

1967

De volta aos xotes e baiões, integra excursão de Gonzagão no nordeste, dividindo-se entre sanfoneiro e motorista (Dominguinhos, aliás, tinha medo de avião). Nesta turnê, conhece a cantora pernambucana Anastácia, sua futura esposa e coautora de mais 200 canções
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Xodó baiano

Acho que muita gente enche a minha bola, mas tem muita gente tocando. Eu sou hoje em dia um veterano do instrumento, aí todo mundo respeita, todo mundo tem carinho"

1972

A convite do empresário Guilherme Araújo, acompanha Gal Costa no show 'Índia'. No ano seguinte, Gil grava 'Eu só quero um xodó', hit que depois ganharia mais de 250 regravações

1975

Participa da turnê de 'Refazenda' de Gilberto Gil, que também grava 'Tenho sede'. Passa a colaborar com mais frequência com o universo da MPB (vide foto com Nara Leão). Em 1979, compõe com o poeta Manduka 'Quem me levará sou eu', vencedor do Festival da TV Tupi
Fotos: Site oficial; Wellington Budim dos Reis/Folhapress; Divulgação

1985

Emplaca duas músicas na novela 'Roque Santeiro': 'De volta pro meu aconchego', e 'Isso aqui tá bom demais', assinada junto com Nando Cordel
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Invasão do forró universitário

O sanfoneiro ficou abafado e acabou se transformando num base, foi substituído pela guitarra. O sanfoneiro, hoje em dia, não toca. Quando faz muito, é uma introdução"

1990

Durante a década inteira, Dominguinhos lança um álbum por ano. Durante esses dez anos, mostrou-se crítico ao forró universitário e eletrônico – chamando este último de 'descartável'

1997

Assina as canções do filme 'O cangaceiro', de Anibal Massaini Neto. Ele também participa cantando as músicas de Zé do Norte, presente no longa original de 1953

1999

Dez anos depois da morte de Luiz Gonzaga, grava o disco 'Você vai ver o que é bom', que traz uma música inédita do compositor Zé Dantas (parceiro de Gonzagão)
Fotos: Edu Garcia/Estadão Conteúdo; Luna Markman/G1
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100 anos de Gonzagão

Se eu comprei uma casa, criei três filhos, tudo foi a sanfoninha. Como sanfoneiro, tive oportunidade de trabalhar com muita gente boa"

2002

O CD 'Chegando de mansinho' dá a Dominguinhos seu primeiro Grammy Latino (é premiado novamente em 2010, por 'Iluminado')

2004/2007

Inicia temporada de shows com Elba Ramalho, que rende um CD. Em 2007, inicia uma parceria com o violonista gaúcho Yamandu Costa, que vira depois dois álbuns e um DVD
Fotos: João Cordeiro Jr./Folhapress, José Patrício/Estadão Conteúdo

2012

É figura atuante nas comemorações de 100 anos de Luiz Gonzaga, apesar dos problemas de saúde agravados por um câncer de pulmão. No final do ano, chega a ser internado em Recife
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Relembre a carreira de Dominguinhos

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