17 de dezembro de 2014

Conheça a missionária de 81 anos "moradora" do aeroporto de Brasília

Ela recebe ajuda e carinho de clientes e funcionários, que pagam até almoço

"Recebi uma mensagem de Deus dizendo que eu deveria alcançar a classe mais rica do país, a que anda de avião, e também os funcionários dos aeroportos. Aqui, agora é o centro da obra aeroviária do Senhor Nosso Deus"

A vida de Isaura Lima Lopes, 81 anos, cabe em um carrinho de aeroporto. A aposentada diz se dedicar, há 21 anos, a passar dia e noite em terminais aeroviários para cumprir as chamadas jornadas cristãs. “Recebi uma mensagem de Deus dizendo que eu deveria alcançar a classe mais rica do país, a que anda de avião, e também os funcionários dos aeroportos”, explica. Ela assegura ter conhecido os saguões de desembarque de 24 estados brasileiros, além do Distrito Federal, onde permanece nos últimos meses. “Aqui, agora é o centro da obra aeroviária do Senhor Nosso Deus”, afirma.

Sem religião, Isaura gosta de dizer que é missionária nos terminais. Por isso, as suas atividades estão sempre a dispor da vontade divina. “Eu faço o que o Nosso Senhor Deus pedir.” Existem dias em que assume pregações bem na saída do desembarque. “Jesus vem, Jesus está voltando”, é um dos recados que costuma dar aos passageiros. Em outros momentos, dona Isaura faz orações silenciosas em um banco qualquer no saguão de desembarque. “É preciso ter tempo para falar com Deus”, adverte ao Correio.

A bordo do carrinho de bagagem, a missionária transita pelo Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubitschek, onde é reconhecida por funcionários e passageiros. Proprietário da farmácia, Cleiton Duarte, 42 anos, conhece dona Isaura desde que abriu o negócio, há 15 anos. “A missão dela é disseminar a palavra de Deus. Tem muita gente que não entende, mas ela é muito lúcida”, conta. Ele diz que ofereceu, inclusive, o cartão de crédito para que a amiga comprasse uma passagem para o Paraná no ano passado. “Eu queria dar a passagem, mas ela não quis. Depois, veio me pagar. Ela costumava viajar mais. Agora, tem ficado por aqui”, comenta.

Com a ajuda de doações espontâneas e da aposentadoria de R$ 724, dona Isaura reúne dinheiro para fazer as viagens. “Nunca pedi a ninguém. É Deus quem toca na mente e no coração das pessoas.” Diante do alto custo dos aeroportos, a alimentação costuma ser restrita. Ela diz que está acostumada a não tomar café da manhã. Na hora do almoço, consegue descontos e até comida de graça em alguns restaurantes. À noite, faz um pequeno lanche. “Mas não nos preocupamos com isso. Nunca nos falta nada”, garante a aposentada. Isaura conjuga verbos e pronomes no plural ao se sentir intimamente ligada a Deus.

A Ele, Isaura recorreu quando começou a ficar surda, aos 38 anos (a deficiência na idade adulta a possibilitou continuar conversando) . Ficou convencida com a justificativa divina. “O Senhor escreveu nas tábuas da minha mente: ‘Minha serva, os sons da terra são muito desafinados com os sons celestiais. Melhor é não ouvir”, conta. Para se comunicar, ela sempre tem papel e canetas no seu carrinho.
http://www.correiobraziliense.com.br/Conheça a missionária

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